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Uma Forma de Saudade, de Carlos Drummond de Andrade

Depois de ser totalmente arrebatada por Sentimento do Mundo, decidi que investiria nos livros do Drummond neste ano. Eu poderia ter escolhido obras mais conhecidas para a minha próxima leitura, como A Rosa do Povo ou Claro Enigma, mas foi o título de Uma Forma de Saudade que me cativou à primeira vista.

Ler qualquer livro do Drummond é um respiro de felicidade, embora essa sensação normalmente venha acompanhada por uma grande melancolia. Eu sempre termino um de seus poemas parte em paz comigo mesma e parte inquieta com o abalo das emoções. Parece incoerente, mas acontece. Porque não tem escrita igual, assim como não tem quem substitua o legado desse autor maravilhoso.

Uma Forma de Saudade tem suas alegrias, mas está especialmente ligado às tristezas das perdas. É um livro íntimo e sincero que diz muito sobre a relação de Drummond com a família e os amigos.

Edição

Contado na forma de registros datados, o livro divide-se em Família, Amigos e Poemas – perfeito para quem busca um trabalho completo do autor, apesar de eu não considerá-lo tão essencial quanto os outros títulos.

A edição é linda e muito bem distribuída em fotografias. O aspecto sépia das imagens e até da folha dá a atmosfera perfeita ao que se propõe.

Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira

No geral, é um livro de rápida leitura, seja pelos capítulos breves ou pela simples habilidade de Drummond em prender o leitor com suas belas palavras.

Mamãe

Não tem como não se emocionar com este livro. Vejo uma sensibilidade tremenda nas anotações do poeta, que, por saudade, conseguiu encontrar na escrita uma maneira de manter viva a lembrança dos pais, irmãos e amigos.

A parte dedicada à mãe foi a que mais me abalou. Porque mãe é mãe, certo? Eu até poderia ter me emocionado com o capítulo dedicado ao pai, mas Drummond foi muito breve ao falar dele, o que nos dá uma ideia melhor do relacionamento familiar que cultivava.

Página que abre o capítulo sobre dona Julieta, a mãe

A mãe de Drummond morreu em 1949, mas sua imagem se fez presente nas páginas do diário do autor por mais longos anos. Em 1969, Drummond anotou: “D. Julieta completa cem anos. Minha grande amiga, minha mãe.”

No último registro, de 1974, o poeta mineiro relembrou: “Mamãe conservava com carinho o pote de brilhantina de Papai, que guardara, quando ele morreu, a marca do seu dedo na superfície da pomada. Mas o conteúdo se estragou, exposto creio que ao sol, e ela teve de desfazer-se do objeto.”

Encantos de um poema

Primeiros versos do poema “Para sempre”

Se ainda tem dúvidas de que um poema tem poder, leia a poesia de Uma Forma de Saudade. Eu passei a realmente compreender o trabalho de um poeta depois que terminei o livro. Inclusive, as palavras escritas por Drummond ganham outros significados com a prosa, tornando-se mil vezes mais valiosas de sentimento.

Ler ou não ler?

Esse livro deve ser mais conhecido, sim. Está recomendadíssimo, mas não pelo preço de capa.

Eu comprei em uma livraria física, sem desconto algum, e devo dizer que não foi barato. Nem um pouco barato.

A edição está bem caprichada, e o conteúdo, então, nem se fala. No entanto, enxergo prioridade em outras obras do Drummond, enquanto esta está mais para um complemento. Além disso, dá para finalizar a leitura tranquilamente em um dia, tornando a experiência, ainda que bastante emocionante, breve. Se você não é de ficar relendo os livros da estante, sugiro caçar uma boa promoção.

Recomendações de Mamãe:

1. Não guardes ódio de ninguém.

2. Compadece-te sempre dos pobres.

3. Cala os defeitos dos outros.

Avaliação: 4 de 5.

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Publicado por Diana Cheng

Jornalista, 25 anos. Adora passar horas perdida na narrativa de um bom livro. Além de ler, também se arrisca em escrever textos aleatórios.

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