
Sempre que me deparo com um livro extraordinário, principalmente quando ele não é muito conhecido, finalizo a leitura exaltada. Como mais pessoas não leram isso, eu me pergunto. Na maioria das vezes, termino sem resposta.
Intérprete de Males é um caso diferente. Tenho palpites sobre sua baixa fama no país. Embora premiado, o livro não tem apelo. Ouso dizer que seu principal desafio está em passar pelo gosto do público brasileiro, que dá maior preferência por histórias norte-americanas e europeias.
Podemos mudar isso? Talvez. Com Intérprete de Males, definitivamente tentarei.
A obra de Jhumpa Lahiri é composta por nove contos, todos eles muito simples, mas fascinantes a suas próprias maneiras.
A autora mantém a qualidade da narrativa conforme termina uma história e começa outra. Os temas poderiam ser resumidos ao que existe de mais comum e familiar no cotidiano, passando por crises de relacionamento, favores entre amigos e laços de sangue, se não fossem pelas transformações da narrativa e pelo bom trabalho de desenvolvimento dos personagens.
Choque de culturas
É com muita segurança e maturidade que Lahiri traz à tona discussões relevantes para o mundo atual, desde imigração até a ignorância não intencional sobre a cultura e as crenças do próximo.
Em A Senhora Sen e O Terceiro e Último Continente, vemos o processo de adaptação de pessoas que se arriscam em viver em terras estrangeiras por uma chance de prosperar.
Já em Quando o Senhor Pirzada Vinha Jantar, de longe meu conto preferido da obra, parte da história de transformação da Índia é abordada. Sob a perspectiva de uma criança, presenciamos a tristeza e a solidão de uma pessoa diretamente afetada por tumultos de um país que até hoje testemunha conflitos políticos e sociais.
Difícil não se emocionar com o temor dos personagens em relação à segurança dos entes queridos, ou até mesmo com a sensação de desamparo por não conseguirem fazer nada estando longe, a continentes de distância.

Riquezas da Índia
Intérpretes de Males é realmente uma montanha russa de emoções conflitantes. Muitos de seus contos transmitem uma sensação de desconforto, ou até pesar pelas histórias de vida mais complicadas.
Mas uma quebra interessante do peso da narrativa são os elementos culturais, que se mostram mais ricos do que imaginávamos. Lahiri é direta ao mencionar os costumes dos indianos e não economiza para falar da gastronomia da região, passando pelos temperos picantes aos aromas fortes e completos.
Ler ou não ler?
Se eu recomendo este livro? Com toda certeza! Além de ser uma ótima leitura para quem deseja diversificar seu acervo pessoal, as histórias escritas por Lahiri são muito bem desenvolvidas. A simplicidade da trama, somada às experiências de quem ouviu e presenciou as maravilhas e as dores de um mundo estrangeiro, é o que sustenta Intérprete de Males e o torna tão singular.
Enquanto os astronautas, heróis eternos, passaram algumas horas na Lua, eu permaneci neste novo mundo por quase trinta anos. Sei que minha conquista é bastante comum. Não sou o único homem a procurar fortuna longe de casa e certamente não sou o primeiro. Mesmo assim, há momentos em que me assombro com cada quilômetro que viajei, cada refeição que comi, cada pessoa que conheci, cada quarto em que dormi. Por comum que pareça, há momentos em que tudo fica além da minha imaginação.
Tenho esse livro na minha lista! Na verdade, está já a caminho da minha caixa de correio! Tenho lido mais autores indianos ultimamente e estou muito curiosa acerca deste livro!
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Ah, eu espero muito que goste! Tenho dificuldade para dar notas boas a livros de contos, e este aqui foi cinco estrelas e favoritado 😁
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Pois, eu por acaso também não costumo ler muito contos, acho que a última colectânea que li foi os ‘contos orientais’ da marguerite yourcenar, que também é mto bom ☺️
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Não conhecia essa coletânea. Vou procurar, obrigada!
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