Minha experiência com os livros de Mário de Andrade

Finalizei há poucos dias o quarto e último livro do box contendo as principais obras de Mário de Andrade, um dos nomes de destaque da Semana de Arte Moderna de 1922. Achei que seria uma boa oportunidade de obter familiaridade com o trabalho do escritor e decidir, de uma vez por todas, se sigo lendo mais coisas dele.

A edição da Novo Século reúne Macunaíma, Amar, Verbo Intransitivo, Pauliceia Desvairada e Contos Novos, quatro títulos muito diferentes entre si, mas com elementos comuns que Mário de Andrade adorava usar no desenvolvimento de suas histórias.

Ilustração de Mário de Andrade

Um deles é a língua estrangeira, presente principalmente em Atrás da Catedral de Ruão, um dos Contos Novos, e dentro dos poemas de Pauliceia Desvairada. O mais engraçado aqui é que adquiri opiniões completamente distintas sobre as duas obras.

Página do conto Atrás da Catedral de Ruão

Da primeira, gostei muito. Foi o último livro do autor que li e achei que, dentre todos, entrega uma dinâmica maior e se mostra menos enfadonho. Com Pauliceia Desvairada, tive muita dificuldade em entender os versos e as referências do poeta, o que tornou a experiência muito mais desagradável e desgastante.

Mário de Andrade tinha uma mente fantástica, isso fica claro em seus trabalhos. Sua bagagem intelectual endossa a narrativa, mas também chega a ser muito limitante em certos momentos. Lendo os poemas dele, especialmente o “prefácio interessantíssimo”, percebi que suas palavras são dirigidas a um seleto grupo do qual infelizmente (ou felizmente) não faço parte.

Isso me deixou pensativa. Teria o autor sido irônico ou era a sua simples maneira de expressar as ideias e rebater as críticas? A linguagem utilizada por Mário de Andrade ultrapassa o “culto” – achei elitista. Mas, se pararmos para pensar, veremos que isso não é realmente uma grande surpresa, dada a época em que o prefácio foi escrito.

Poema Noturno, que compõe Pauliceia Desvairada

Deixando de lado o fracasso de Pauliceia Desvairada, sobrou falar de Macunaíma e Amar, Verbo Intransitivo. Considero os dois livros as maiores obras do escritor. Macunaíma é emblemático por apresentar um personagem desimpedido; bem irritante, mas engraçado. Já Amar, Verbo Intransitivo revela as transformações de uma cidade urbana, cada vez mais influenciada pelos costumes afora.

Reconheço as qualidades de ambas as histórias. Porém, não posso deixar de lado o desinteresse que tive pela prosa, muitas vezes cansativa, e pelo destino dos personagens.

Em resumo, gostei muito de conhecer a escrita de um dos nomes mais marcantes da literatura brasileira, mas não creio que voltarei a ler alguma coisa do autor tão cedo. Tenho outros nomes nacionais favoritos, e prefiro apostar por enquanto na segurança do que me é familiar a tentar encontrar a “obra perfeita” de Mário de Andrade.

Publicado por Diana Cheng

Jornalista, 25 anos. Adora passar horas perdida na narrativa de um bom livro. Além de ler, também se arrisca em escrever textos aleatórios.

2 comentários em “Minha experiência com os livros de Mário de Andrade

  1. Diana, excelente a sua crítica. Gostaria de recomendar um pequeno livro, na verdade uma peça de teatro, que chegou a ser filmada pela Globo. Trata-se de Tarcila, de Maria Adelaide Amaral. Toda feita por diálogos entre Tarsila, Mario e Oswald de Andrade, a peça permite que a gente conheça melhor e entenda a cabeça destes artistas fundamentais

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