
O que me motiva a escolher uma HQ é, sem sombra de dúvida, o traço do ilustrador. Não tem jeito: tem que prender minha atenção, conversar comigo. Pareceria estranhamente fofo se não fosse um pouco ridículo.
Com O Muro, algo me dizia que talvez houvesse mais – mais do que a estética, mais do que o turbilhão de emoções de uma garota entrando na adolescência. Simplesmente mais.
A sinopse não poderia ser mais comum: Rosie, de 13 anos, está passando por um momento difícil. Além das mudanças do corpo, a garota tenta lidar com a fuga da mãe e a distância do pai. Sozinha e praticamente sem amigos, Rosie mergulha em vícios e pensamentos tortuosos. No meio de toda essa confusão ainda conhecemos Jô, um pouco de punk rock e a mancha do amor novo, porém marcante.

Sendo honesta comigo mesma, acho que o “mais” de que tanto procurava é baseado no desejo de me encontrar nas páginas que Céline Fraipont roteirizou e nos quadrinhos que Pierre Bailly desenhou.
Não, não fui uma adolescente rebelde. Não ouvia som pesado e muito menos bebia e fumava com 13 anos. Mas passava pelo mesmo desnorteamento de Rosie – e, convenhamos, da maioria dos jovens também. Eu sabia que esse encontro, da minha versão mais nova com a garota belga dos anos 80, iria render alguma coisa.

O Muro é insatisfatoriamente rápido. Vi brechas para que os autores pudessem explorar mais os personagens e, principalmente, as angústias de Rosie. Mas decepções à parte, gosto de pensar que a história é uma HQ “entre fases” que fala bem sobre os conflitos da juventude e como um ambiente desordeiro pode agravar a sensação de falta, despropósito e solidão.

Falando assim, O Muro parece intensamente triste, mas trata, sobretudo, do processo de cura de uma ferida apoiado a um lugar – mesmo quando o lugar é uma pessoa.
A HQ é estranha, e é estranha porque Rosie é estranha. Ela faz isso: explora sua própria estranheza a ponto de ser identificável.
