A primeira vez que tomei conhecimento do trabalho de Chimamanda Ngozi Adichie foi com Sejamos Todos Feministas, adaptação de uma palestra dada pela autora em 2012. Desde então, prometi que voltaria a consumir mais coisas escritas por essa mulher incrível.
Isso foi acontecer anos depois, e tenho apenas a mim para culpar pela demora. Não sei por que adiei tanto. Já desconfiava de que iria gostar muito dos outros livros.
No Seu Pescoço me fez relembrar do jeito único de Chimamanda de se fazer ouvir. Mas também trouxe coisas novas que fui descobrindo com um misto de fascínio e respeito. São elementos pequenos que, quando se juntam, formam um todo poderoso.
Contando histórias
No Seu Pescoço reúne 12 contos com cenas variadas e histórias bem distintas. Pensando isoladamente em cada um dos capítulos, a ligação não parece tão forte. Não que as histórias precisassem disso: cada um dos textos é maravilhoso por si só.
No entanto, é importante pensar que existe um propósito por trás dos contos; algo que é intrínseco à natureza dos personagens e ganha novas proporções conforme somamos um caso ao outro. Lendo o livro, senti que cada trajetória é original, mas não inteiramente única ou excluída do universo dos problemas reais.
Acho que a melhor coisa de No Seu Pescoço é justamente o fato de que a autora aborda, sem nos enrolar muito, tanto os problemas universalmente identificáveis, como amor e perda, até questões mais delicadas, como preconceito, opressão e desamparo do imigrante.
Variadas temáticas
A estrutura da narrativa pode assustar com seus blocos de texto, mas a escrita de Chimamanda é tão imersiva que a leitura passa mais rápido do que gostaríamos.
Temos em uma ponta descrições experientes sobre as cenas da Nigéria, desde o lado rico da cultura do país à violência cotidiana entre etnias e religiões. Na outra extremidade, Chimamanda mostra os desafios da imigração – a demora em conseguir um visto permanente, a dificuldade de comunicação e adaptação e a presunção das pessoas com quem é de fora, o que fomenta os estereótipos.
Acabou? Não, tem mais. Chimamanda também levanta, ainda que em menor escala, assuntos como colorismo, relacionamentos interraciais e a minimização da mulher em um ambiente marcado pelo sexismo e conservadorismo.
Comparações
Ao longo da leitura, outro livro foi se destacando por conta das semelhanças com No Seu Pescoço. Além de também reunir contos, Intérprete de Males, da Jhumpa Lahiri, leva em questão alguns tópicos abordados pela escritora nigeriana.
Principalmente nos relatos sobre imigração, senti que duas escritoras encontraram um ponto principal sobre o qual falar. Ou, neste caso, mais de um.
O choque cultural e as relações disfuncionais são aspectos comuns nos dois livros. Muito bem escritas e desenvolvidas, as histórias entregam perspectivas novas e, o mais importante de tudo, críveis.
O que muda é a personalidade de quem escreve. Chimamanda sempre me passou a imagem de ser uma mulher forte, algo que ela provou ser verdade. No Seu Pescoço apresenta uma qualidade mais ácida, e pode parecer até insensível para quem não se dá o trabalho de entender mais a fundo os contos, mas garanto que o livro é um misto de horror (pela violência e pelos abusos) e beleza (pela paixão e bondade inesperadas).
Ler ou não ler?
No Seu Pescoço trata de temas pesados, principalmente no conto que dá nome ao livro e em Amanhã É Tarde Demais, uma história chocante sobre como o rancor leva ao ódio.
Mesmo com temas tão delicados, acho que todos deveriam conhecer em algum momento da vida os trabalhos da Chimamanda. As coisas que eu pude tirar dessa coletânea de contos dariam horas de discussão; elas simplesmente não foram escritas para durar pouco.
Há no livro muito para pensar e levar para a frente.
À noite, algo se enroscava no seu pescoço, algo que por muito pouco não lhe sufocava antes de você cair no sono.
Boa dica. Dela li somente o “Americanah”, e gostei muito. Não sabia que ela tinha publicado contos. Parabéns pelo conteúdo!
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Muito obrigada! Sempre achei que fosse começar por Americanah. mas encontrei No Seu Pescoço por um preço mais em conta. Agora vou adquirir os outros livros dela 😊
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Bela análise. Eu comecei pelo “como educar crianças feministas” e logo depois ganhei de um casal de amigos o “no seu pescoço “. Achei genial. Pouco tempo depois devorei “meio sol amarelo” e no fim do ano passado li “americanah ”. Agora falta o “hibisco roxo”, que estou muito ansioso para ler, apesar que uma amiga me disse que não era tão bom quanto os outros.
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Eu estava pensando em adquirir justamente Hibisco Roxo agora… Mas talvez Meio Sol Amarelo seja uma opção. Honestamente, todos parecem maravilhosos hahahaha Obrigada por ter lido a resenha! 😊
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O Meio Sol Amarelo é o livro mais tenso dela que eu li, com certeza. Vale muito a pena leitura
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Eu adoro a Chimamanda, mas ainda não peguei esse pra ler. Li 3 livros dela, nas o que eu mais recomendo é o Hibisco Roxo, por causa da temática de violência doméstica (cuidado se tiver gatilho). Mas a escrita dela é incrível!
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Quero muito ler Hibisco Roxo! Até pensei em colocar no carrinho de compras, mas vi que outras pessoas preferiam Americanah. Vou aproveitar alguma promoção e adquiri-los o quanto antes, porque amei tudo o que li da Chimamanda até agora 🥰
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