
Uma pena admitir, mas Charlotte é um livro fadado a permanecer fora do radar do grande público. Digo isso por “n” motivos. O principal deles talvez seja o fato de que Charlote Salomon, judia alemã morta aos 26 anos em Auschwitz, foi um mistério em vida e continua sendo um mistério até hoje.
Eu não a conhecia, até porque minha relação com a pintura não é tão próxima quanto a que tenho com a literatura. Honestamente, não sei o que me fez dar uma chance ao livro de David Foenkinos – talvez por vender uma ficção baseada em fatos reais ou a capa do livro, que replica um dos quadros mais emblemáticos da artista, seu autorretrato.
Talvez a gente caia no engano de pensar que um autorretrato irá nos dizer tudo sobre o artista, mas é uma armadilha.
Talvez seja mais simples pensar que o próprio artista saiba o que quer dizer sobre si mesmo na hora de criar seu autorretrato.
Pode até ser verdade para algumas pessoas, mas teria sido esse o caso de Charlotte Salomon?
O livro Charlotte conseguiu ser tudo e nada do que eu esperava.

Explico.
Charlotte é tão intrigante como a própria artista foi em vida. Sensível e poético, contado em versos que acabam cedo demais, ele reconstrói a trágica história de uma jovem mulher, ainda em tempo de conhecer um mundo sem guerra, superar o primeiro grande amor e descobrir o que gostava na pintura – e além dela.
Mas quanto do que Foenkinos escreveu era realmente Charlotte Salomon?
Foenkinos encheu Charlotte Salomon de sentimentos, manias e pensamentos que talvez não tivessem passado pela cabeça dela. O autor teve a liberdade de preencher as lacunas da história, mas dando sua própria interpretação dos acontecimentos.
Isso nos deixa com duas versões da artista – igualmente incompletas, igualmente misteriosas.
Charlotte é uma tentativa de prestar homenagem e fazer justiça a quem teve que lidar com problemas familiares, decepções e perseguições a vida toda.
A mensagem final que o livro me passou talvez não seja a mesma leitura que outras pessoas tiveram ou terão. De que você tira a arte dos breves momentos de felicidade, mas principalmente do sofrimento e da solidão. De que a arte está tão escondida dentro de você que é preciso cavoucar até atingir o fundo.
Charlotte Salomon provavelmente não chegou ao seu “fundo interior”. Não aos 26 anos.
Neste ano, farei 25 anos, e posso dizer que estou longe de entender minhas ambições, paixões, escolhas e arrependimentos.
O que esperar, então, de uma mulher de 26 anos com uma história de vida tão complicada? Perguntas sem respostas. E muitas, mas muitas suposições.
É exatamente o mesmo sentimento que tive! O que mais me chamou atenção nesse livro foi justamente nunca ter ouvido falar dela até então. Mas sinto que o autor quis mais fazer um trabalho de um grande admirador do que de fato contar a história dela.
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O que me surpreendeu no livro, além da escrita, é que ele conta toda a saga dele para caçar informações sobre a Charlotte. Realmente, é um trabalho de um grande admirador da pintora!
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Olá Diana, faz um tempo que leio o seu blog, estou explorando os textos ainda. Não conhecia nem o livro e nem o autor, mas fiquei interessada, vou adicionar à minha lista de intenções.
Esse ano eu faço 34 e também estou longe de me entender. Abs!
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Kelly, fico feliz em saber que tem acompanhado alguns textos meus. Espero que minhas indicações sirvam para você. A pergunta é: será que vamos entender quem somos em algum momento da vida? hahahaha
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